sábado, 13 de novembro de 2010

Carlos Drummond de Andrade - Alguma Poesia - o livro em seu tempo

Alguma Poesia - o livro em seu tempoCarlos Drummond de Andrade, belíssimo livro, organização Eucanaã Ferraz é uma reprodução da obra, literalmente, não apenas a imagem integral da primeira edição do livro inaugural do autor, publicado em maio de 1930.

Reproduz-se na obra, o exemplar, especialmente encadernado, que pertenceu ao próprio poeta, com anotações na íntegra. A obra inclui cartas do autor a críticos e amigos, artigos, resenhas. Os recortes, fotos e cartas que ilustram esta edição são originarios da Fundação Casa de Rui Barbosa, Arquivo Museu de Literatura Brasileira, conforme, informa o organizador.


Oito décadas após sua publicação, Alguma Poesia não cessa de convocar novos leitores e releituras. Matriz inesgotável de investigações críticas, instiga-as e subsiste a elas, tendo conservado o frescor dos clássicos no franco diálogo que manteve com a poesia brasileira que se escreveu nos últimos 60 anos.

Carlos Drummond de Andrade é o poeta brasileiro atualizadíssimo, sua poesia é como uma eterna conversa com um amigo, talvez por isto sinto Drummond com demasiada intimidade, a quem podemos conversar intensamente através dos seus belos versos.



POEMA QUE ACONTECE

Nenhum desejo neste domingo
nenhum problema nesta vida
o mundo parou de repente
os homens ficaram calados
domingo sem fim nem começo.

A mão que escreve este poema
não sabe que está escrevendo
mas é possível que si soubesse
nem ligasse.

(Carlos Drummond de Andrade)

O livro contém as imagens feitas em scanner da obra original e linda imagem do autor ainda jovem, entretido nas escritas.

"Carlos Drummond de Andrade, timidíssimo, é, ao mesmo tempo, inteligentíssimo e sensibilíssimo. Coisas que se contrariam com ferocidade. E desse combate a poesia dele é feita."
(Mário de Andrade - 100 Anos de Poesia)

Outras opções de Alguma Poesia.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Carla Guedes - Poetisa Homenageada


Carla Guedes, poetisa, minha filha, homenageada como personalidade do ano na área de Cultura, pela Secretaria de Cultura da cidade de Macaé, na passagem do dia 05/10/2010, conforme atesta o certificado recebido.

Carla Guedes Braga, nascida em 02/08/1988 é coralista, poetisa macaense, tendo participado como autora de poemas diversos no livro relançado por ocasião das festividades do dia da cutura, de autores poetas macaenses, "Palavra Expressa".

É autora ainda dos livros "Imaginária Flor", lançado aos 10 anos e "Verso In´Verso", aos 20 anos, com parceria com a poetisa Silvana Teixeira.Classificada em 8. lugar no 12. Festival de Poesia Falada com seu poema "Tentativa de Poeta":

Riscava as primeiras rimas
Como quem arrscava os primeiros passos
E rabiscando de leve, redondo e lento
Compunha, em pronto, de certo,
versos tolos.

E regendo assim as palavras
Libertando-as de minha sã loucura
Minha escrita, hoje, é eterna procura:
Nada de termos exatos ou
versos inteiros.

Dentre caudalosos rios fonéticos
Escolho em tantos somente poucos;
Profanar temas herméticos, em meu dever de poeta;
Na proeminência de meus
versos ocos.

Meus desvarios lógicos, frenéticos
Em minha tentativa de compor versos poéticos,
Assemelho-me a crônicos, insanos, insensatos, léxicos.
Tomado por inteiro de meus
versos loucos.

(Carla Guedes)

Seus poemas refletem a interiorização e a busca pela essência ontológica, cultivando o jogo de palavras e a musicalidade natural da língua, segundo a autora.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Dia da Cultura - Uma Homenagem a Poesia - Mário Quintana

"Creio que um verdadeiro poeta, ainda que soubesse ser o único sobrevivente humano na face da terra, ainda assim escreveria poemas. Indagar para quê ou para quem? Isso aprofundaria o mistério da criação poética."
(Mário Quintana)

Ler, reler Mário Quintana (1906-1994) na semana da Cultura é uma bela homenagem a poesia brasileira. Falar em poesia é falar em Mário Quintana que buscou a aproximação com a mesma através da simplicidade nela embutida por suas criações que ele em vida, procurou atingir aos atentos leitores:

"Jamais compreendereis a terrível simplicidade das minhas palavras porque elas não são palavras: são rios, pássaros, naves,..." ou ainda "O verdadeiro poeta faz poesia com as coisas mais simples e corriqueiras deste e dos outros mundos."

O Auto-Retrato

No retrato que me faço
- traço a traço -
Às vezes me pinto nuvem
Às vezes me pinto árvore...

Às vezes me pinto coisas
De que nem há mais lembrança...
Ou coisas que não existem
Mas que um dia existirão...

E, desta lida, em que busco
- pouco a pouco -
Minha eterna semelhança,

No final, que restará?
Um desenho de criança...
Corrigido por um louco!

(Mário Quintana)

"Alguns de teus versos não precisam estar impressos em tinta e papel: eu os carrego de cor, e às vezes eles brotam de mim como se fossem meus. De certo modo, eles são meus, e hás de convir que a glória de um poeta é conceder essas parcerias anônimas pelo mundo..."
(Paulo Mendes Campos)

A Oferenda

Eu queria trazer-te uns versos muito lindos...
Trago-te estas mãos vazias
Que vão tomando a forma do teu seio.

Adquiri, para melhor conhecer este grande poeta, a coleção Mário Quintana contendo os livros Espelho Mágico, Baú de Espantos, A cor do Invisível, Canções e A Rua dos Cataventos. Verdadeiro presente!


Obras do autor:

POESIA: A Rua dos cataventos, 1940; Canções, 1946; Sapato Florido, 1948; O aprendiz de feiticeiro, 1950; Espelho mágico, 1951; Inéditos e esparsos, 1953; Apontamentos de história sobrenatural, 1976; A vaca e o hipogrifo, 1977; Na volta da esquina, 1979; Esconderijos do tempo, 1980; Diário poético, 1985; Baú de espantos, 1985; A cor do invisível, 1989; Velório sem defunto, 1990.

ANTOLOGIAS E OBRAS COMPLETAS: Poesias, 1952; Prosa e Verso, 1978; Nova Antologia Poética, 1981; Os Melhores Poemas, 1983; 80 Anos de Poesia, 1986.

LITERATURA INFANTIL: Batalhão das Letras, 1948; Pé de Pilão, 1975. 

CRÔNICAS E OUTRAS: Cadernos H, 1973; Lili inversa o mundo, 1983; Nariz de Vidro, 1984; Sapato Amarelo, 1984; Da preguiça como método de trabalho, 1987; Preparativos de viagem, 1987; Sapato furado, 1994

Fonte: 100 Anos de Poesia - Um panorama da poesia brasileira no século XX - Volume I

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Lygia Fagundes Telles - Cadernos de Literatura Brasileira

"Na verdade eu aprendi a escrever muito mais tarde do que a maioria das crianças. Nós vivíamos mudando de cidade, por força do trabalho do meu pai, de maneira que eu não parava nas escolas. De certo modo, minha ignorância era legitimada pela situação: filha de delegado, de promotor, podia estar atrasada. Minha mãe achava eu eu era retardada. Até mesmo falar eu aprendi tarde; meu avô chegou a pensar que eu fosse muda: eu só pedia as coisas através de gestos..."

(Lygia Fagundes Telles)


Pesquisei Mário Quintana na rede e eis que surge Lygia Fagundes Telles. Nada ocorre ao acaso. Acabei por adquirir os "Cadernos de Literatura Brasileira", tendo como artista principal esta maravilhosa escritora que tão pouco conheço.

O livro de estréia Porão e Sobrados (1938) apesar da autora não o considerar quando aferida sobre sua primeria obra, talvez pelo nível das tramas ou técnica, bem norteia toda a produção futura de Lygia. É só conferir o prefácio de Lygia: "E aquelas minhas aspirações [literárias] complicadas foram-se reduzindo. De tudo, só restou um punhado de vidas que resolvi alojar no "Porão". Mas entre essa gente pobre, vieram alguns burgueses. E precisei construir um "Sobrado". Carinhosamente o[s] recebo nesta minha primeira obra, na qual tudo pode faltar, menos uma cousa: a sinceridade", escreveu. Assim inicia a obra de Lygia Fagundes Telles, um livro de contos, hoje esquecido.

Em entrevista a "Cadernos de Literatura Brasileira", referente a estréia cedo na literatura, Lygia responde:

"Eu sempre digo que comecei a escrever antes de saber escrever. Não é charminho de escritor, não. Falo assim porque antes de ser alfabetizada eu já contava histórias. Eram histórias que eu ouvia das minhas pajens. Essas pajens eram moças desgarradas que minha mãe arrebatava. Eu gostava disso, uma coisa meio medieval, de princesa, ter pajem. Pois bem: eu comecei contando para as outras ciranças as histórias que ouvia das pajens. Mas sempre mudava um pouco o que tinha escutado e, quando repetia, muddava de novo. A garotada protestava: "Não era assim! A caveira tinha outro nome!" (caveira porque eu contava sempre histórias de terror). Quando eu formalmente aprendi a escrever, achei que era importante "guardar" as histórias e aí passei a anotar tudo num caderno."

Ainda: "Comecei a escrever os contos que depois reuniria em Porão e Sobrado". Num determinado momento, eu me dei conta de que as pessoas que escreviam tinham livros publicados - e  eu quis ter o meu."

Sobre romance: "É curioso. Quando estou escrevendo um romance, eu tenho a impressão de que nunca fiz outra coisa na vida. Eu fico tão apaixonada pelo gênero que chego a achar que nunca mais vou escrever um conto. Os personagens de um romance exigem muito. A certa altura, eu chego a confundi-los com seres da vida real. Nesse ponto, eu e as personagens já formamos uma só matéria. Isso continua a ser um mistério para mim. Quando terminei As meninas, comecei a chorar - é que tinha acabado ali uma convivência encantadora, que me fazia feliz. Ao terminar o livro, me senti solitária.

E conto: "Eu percebo que está começando a nascer um conto quando, ao analisar as personagens, vejo que elas são, de certo modo, limitadas. Elas tem que viver aquele instante com toda a força e a vitalidade que eu puder dar, porque nenhuma delas vai durar. Isso quer dizer que, com elas, eu preciso seduzir o leitor num tempo mínimo. Eu não vou ter a noite inteira para isso, com uísque, caviar, entende? Preciso ser rápida, infalível. O conto é, portanto, um aforma arrebatadora de sedução. É como um condenado à morte, que precisa aproveitar a última refeição, a última música, o último desejo, o último tudo."
Perguntada sobre seu espelho literário, responde: Edgar Allan Poe, James Joyce, Oscar Wilde, Henry James, D. H. Lawrence, Jorge Luis Borges, William Faulkner, e, claro, Machado de Assis.

Resumir Lygia, tarefa inglória, entretanto,  uma vida de disciplina sem regras fixas, de amor à vida e à literatura, quando se faz da literatura "uma forma de amor".
O Menino e o Velho
Quando entrei no pequeno restaurante da praia, os dois já estavam sentados, o velho e o menino. A manhã tão luminosa. Fiquei olhando o mar que não via há algum tempo, e era o mesmo mar de antes, um mar que se repetia e era irrepetível, misterioso e sem mistério na inocência da sua natureza mais profunda, estourando naquelas espumas flutuantes (bom-dia, Castro Alves!), tão efêmeras e eternas, nascendo e morrendo ali na areia. O garçom, um simpático alemão corado, me reconheceu logo, Franz?, eu perguntei. Ele fez uma continência, baixou a bandeja e deixou na minha frente o copo de chope. Pedi um sanduíche, Pão preto?, ele lembrou e foi até á mesa do velho que pediu outra garrafa de água Vichy. Fixei o olhar na mesa ocupada pelos dois, agora o velho dizia alguma coisa que fez o menino rir, um avô com o neto. E não era um avô com o neto, tão nítidas as tais diferenças de classe, o contraste entre o velho, vestido com simplicidade, mas num estilo rebuscado e o menino encardido, um moleque do povo e de alguma escola pobre, a mochila de livros toda esbagaçada no espaldar da cadeira.
(...)

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