sábado, 27 de agosto de 2011

Pierre Lévy

"Somos o que fazemos e experimentamos"
(Pierre Lévy)

Tenho um carinho especial por Pierre Lévy (página oficial do autor aqui) desde o ano de 2006 quando adentrei na leitura de alguns de seus livros "As Tecnologias da Inteligência" e "Cibercultura" como base de uma pesquisa para um trabalho acadêmico. Inovador, com uma clara visão de futuro sem tirar o pé do passado. Um verdadeiro filósofo da modernidade. Resolvi dividir neste espaço a fala de nosso caro palestrante, por mais difícil que seja tentar resumir sua retórica sem perder a profundidade de suas idéias.

Na época que estudei Pierre Lévy, o que mais chamou a atenção foi seu encorajamento frente as dificuldades que abarcam a vida do homem desde os tempos onde a técnica era iniciada tão somente em um manuseio de uma machadinha por um primitivo homem mas que já almejava uma vida coletiva até chegar as fortes transformações de nosso século, especificamente nesta última década com as tecnologias da inteligência afloradas pelos ciberespaços cada vez de mais acesso aos habitantes deste planeta levando maior democracia nestes coletivos vivos, que segundo o filósofo é o verdadeiro espaço da democracia.

Com a invenção da escrita, Lévy acredita que acelerou-se a evolução da humanidade através da invenção das cidades, do estado e impostos, primeiros governos, relacionados a sistemas de religiões complexos (maia, astecas). Assim, os sistemas de civilizações antigas possuiam sistemas de escritas que ajudavam a organizar a sociedade politicamente. O alfabeto foi portanto a grande invenção. Os profissionais da escrita e leitura (hierógrafos?) exerciam a habilidade para a casta (escribas) que trabalhavam para os altos sacerdócios. Eram especialistas em escrever. Assim, o alfabeto tornou a forma simples de democratizar a escrita pois o período de aprendizagem de 3 anos em detrimento aos sistemas antigos de símbolos que levavam em média 15 anos para aprendizagem. As civilizações baseadas no alfabeto tornaram-se mais fortes. Esta é a relação entre alfabeto e democracia. Quanto mais acesso a alfabetização, maior possibilidade de democratização.

Pierre Lévy nos convida a ter uma atitude responsável frente ao imenso fluxo de informação que circula em rede (orkut, facebook, twitter,...), onde todos estão interconectados, e não se sabe por vezes o que se fazer com este imenso mar de informações. Antes do meio digital, havia escolas, mídia, igrejas, que criavam e gerenciavam a informação para as pessoas onde todos traziam a afirmação de 'essa é a verdade e você pode acreditar nela' para quem pudesse absorvê-la. Havia, portanto, menos este problema de escolha a partir de qual informação você deseja gerenciar para construir a base de seu conhecimento. Estamos portanto, gerenciando nosso conhecimento ininterruptamente e as redes sociais auxiliam nestas escolhas a medida que elas são pontos de partida para minha experiência (definir interesse, estabelecer prioridade, mostrar fonte, filtrar/sintetizar e categorizar a informação), troca, avaliação e reavaliação destas escolhas. Manter o foco no que se quer sem perder a visão geral do que corre no mundo também é de primordial importância, confiando nas próprias escolhas. O que antes era trabalho de especialistas como bibliotecários agora se faz presente em nosso dia-a-dia através da categorização das informações que manuseamos em rede. Não somos somente autores, jornalistas, leitores... este é o novo estado de inteligência coletiva.

Quando escrevo este artigo, por exemplo, em meu blog 'Nós Todos Lemos", cita Pierre Lévy, estou exercitando a capacidade de síntese, de aprendizagem e compartilhando informação (diálogo criativo). É este o ciclo da responsabilidade pessoal de cada um em rede, onde nossas escolhas estão interferindo nas escolhas do próximo, na medida em que posso ser exemplo a ser seguido. A inteligência coletiva, segundo Pierre Lévy, não está acima de nós, ela surge da interação de cognições pessoais, da aprendizagem e intercomunicação interpessoais. é daí que vem a inteligência coletiva, a base é pessoal.

A internet possibilita um espaço de obquidade pois a informação está ao mesmo tempo em toda parte. Este é um poder de transformação totalmente novo na comunicação humana feita através da automação e transformação dos símbolos nestes espaços vivos. É quando se dá a evolução política. A liberdade de publicação (blog, mídia social, etc), relativamente sem barreira econômica, quando comparado as barreiras antigas, há um grande progresso e na maior parte dos casos, sem pedir permissão e editor, etc, que até pouco tempo controlavam a circulação das informações. É só liberdade de expressão o que as redes proporcionam e isto é maravilhoso e surpreendente, mesmo que ainda haja algum tipo de 'controle' subentendido nos espaços utilizados. Poder publicar com liberdade e ter livre acesso a grande gama de informações, de outros países e não somente através das mídias, mas diretamente através dos atores sociais, de pessoas, diretamente, acessar as fontes diretamente, os editores, o ator cultural, político e econômico. Fim do monopólio da informação. Carregavam os pacotes que eram a informação e agora perderam esse controle pois as informações circulam por todos os lados e estão de acesso a todos.

Considerando que o primeiro site na web surgiu em 1994 e que no final do sé. XX, 1 ou 2% da população global está conectada à internet e agora, 12 anos mais tarde, 30% já faz esta conecção. É uma grande transformação. A web não mudou. A grande mudança é a grande corrida atrás deste tipo de mídia. Sem risco de sofrermos contradição até o meio deste século haverá mais pessoas conectadas, afirma o filósofo e que 55% dessas pessoas não são de origem européia ou americana. Não há mais centro. Acabou. A alfabetização é o grande problema, ainda, para que todos tenham acesso , estejam conectados, mas também afirma o estudioso que o fato de nem todos ficarem futuramente conectados também faz parte da democracia, da opção de escolhas tão salutar.

Lévy deixa ainda uma mensagem de reflexão acerca da atual luta que o ser humano trava, que é a luta pela transparência simétrica, que está nas grandes empresas, corporações, para que sejam transparentes. Esta é a luta pela democracia pois em geral as pessoas não confiam na opacidade. Cada vez mais o poder está baseado na confiança. Para se ter poder, segundo o filósofo, é necessário ser transparente, onde se escolhe atuar (de onde vem o dinheiro? qual sua filiação política?) É mais importante a transparência do que a objetividade. O melhor é falar tudo (!). A força é baseada na confiança.

A internet, afirma Pierre Lévy, é como uma vila global, espaço público, onde nossa vida poderá ser cada vez mais transparente. Fazemos a diferença neste espaço quando somos capazes de marcar, ajudar o outro a trilhar os caminhos também. Deixamos rastros de informações para que outras pessoas possam deixar também e conhecer caminhos. Formar comportamentos na internet, isto fazemos transformando as paisagens e ajudando o outro a ver conforme vemos.

"É necessário olhar como os pássaros voando para a história da humanidade."
(Pierre Lévy)

Artigo de Pierre Lévy (A esfera pública do século XXI)

Entrevista de Pierre Lévy (Controle redes sociais e futuro dos livros)

Pierre Lévy é um dos pensadores mais representativos da revolução digital no mundo contemporâneo. Nasceu na Tunísia e realizou seus estudos na França, onde fez doutorado em Sociologia e em Ciências da Informação e da Comunicação. É professor titular da cadeira de Pesquisa em Inteligência Coletiva, da Universidade de Ottawa, no Canadá. Presta serviço a vários governos, organismos internacionais e grandes empresas, sobre as implicações culturais das novas tecnologias. Seus livros já foram publicados em mais de 20 países.


segunda-feira, 15 de agosto de 2011

A arte de escrever - Schopenhauer

"A pena está para o pensamento como a bengala está para o andar. Da mesma maneira que se caminha com mais leveza sem bengala, o pensamente mais pleno se dá sem a pena. Apenas quando uma pessoa começa a ficar velha ela gosta de usar bengala e pena."(Arthur Shopenhauer)

O livro A arte de escrever apresenta abordanges sobre a literatura e seus vários aspectos distribuídos nos temas: 'sobre a erudição e os eruditos', 'pensar por si mesmo', 'sobre a escrita e o estilo', 'sobre a leitura e os livros' e 'sobre a linguagem e as palavras', sob a visão de Arthur Shopenhauer  nas contudentes, atuais e até engraçadas críticas.

Shopenhauer ataca a literatura de consumo, procura estabelecer distinções entre os bons autores e os que escrevem por dinheiro, condena o hábito de ler apenas novidades deixando de lado os clássicos e faz considerações sobre a degradação da língua pela literatura decadente.

Reler Shopenhauer é antes que analisar suas duras críticas ao ato de ler desmensuradamente, refletir nas sábias colocações do filósofo: "Para ler o que é bom uma condição é não ler o que é ruim, pois a vida é curta, o tempo e a energia são limitados."


Shopenhauer valoriza a reflexão intercalada com uma boa leitura (afinal não compramos tempo junto com um bom livro) quanto a arte de 'não ler'.

 "Seria bom comprar livros se fosse possível comprar, junto com eles, o tempo para lê-los, mas é comum confundir a compra dos livros com a assimilação de seu conteúdo.

Diminuí meu ritmo de leitura recentemente e lógico que me agarrei a Shopenhauer para me sentir bem pois nem é preciso dizer que sou viciada em ler. Tem um momento em que o autor chega a dizer: "Ah, essa pessoa deve ter pensado muito pouco para ter lido tanto". Tornando minha fala contraditória, como bem lembra o autor, pois logo que falo já entro em erro, digamos que me opornunizei ao ato de pensar melhor.

"Assim como as atividades de ler e aprender, quando em excesso, são prejudiciais ao pensamento  próprio, as de escrever e ensinar em demasia também desacostumam os homens da clareza e profundidade do saber e da compreensão, uma vez que não lhes sobra tempo para obtê-lo."

Schopenhauer, Arthur, 1788-1860
A arte de escrever / Arthur Schopenhauer; tradução, organização, prefácio e notas de Pedro Sussekind. - Porto Alegre : L&PM, 2008. 176 p.

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