sexta-feira, 31 de maio de 2013

Euclides da Cunha


Euclides da Cunha


CRONOLOGIA

1866 - Nasce Euclides Rodrigues Pimenta da Cunha, no município de Cantagalo, Rio de Janeiro.
1869 - Morre sua mãe.
1871 - Inicia os estudos em São Fidélis, no Rio de Janeiro.
1877 - Vai morar com os avós paternos, em Salvador, no Bahia.
1883 - Publica seus primeiros artigos no jornal estudantil O Democrata, do Colégio Aquino, do Rio de Janeiro.
188- Cursa o primeiro ano de Engenharia na Escola Politécnica.
1886 - Transfere-se para a Escola Militar da Praia Vermelha.
1888 - Após um incidente com o ministro da Guerra, dá baixa no Exército e muda-se para São Paulo, onde começa a colaborar no jornal A Província de S. Paulo.
1889 - Retorna à Escola Politécnica no Rio.
           Proclama a República, é reintegrado no Exército.
1890 - Casa-se com Ana Sólon Ribeiro.
1891 - Diploma-se em Matemática e em Ciências Físicas e Naturais.
1894 - É enviado para a cidade de Campanha, em Minas Gerais.
1896 - Desliga-se do Exército e passa a trabalhar na Superintendência de Obras de São Paulo.
1897 - Volta a colaborar no jornal O Estado de S. Paulo, antigo A Província de S. Paulo, que o envia a Canudos para cobrir os acontecimentos.
1899 - De volta de Canudos, escreve grande parte do livro Os Sertões em São José do Rio Pardo, SP.
1902 - Em dezembro é publicada a primeira edição de Os Sertões (*).
1903 - Em julho, é publicada a segunda edição de Os Sertões.
            É eleito para a Academia Brasileira de Letras.
            É nomeado membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
1904 - Ocupa o cargo de chefe da Comissão de Saneamento de Santos.
            É nomeado chefe da Comissão de Reconhecimento do Alto Purus.
1905 - Passa todo o ano no Amazonas.
1906 - Trabalha como adido ao gabinete do barão do Rio Branco.
1907 - Publica Contrastes e Confrontos e Peru Versus Bolívia.
1909 - Termina de escrever À Margem da História.
            É nomeado para o cargo de professor de Lógica no Ginásio Nacional.
            Morre em 15 de agosto, assassinado pelo amante de sua mulher.


(*) Os Sertões
Em 1897 o jornal O Estado de S. Paulo enviou o jornalista e engenheiro Euclides da Cunha ao sertão da Bahia para cobrir a rebelião de Canudos, liderada por Antônio Conselheiro. A descrição do que presenciou transformou-se num clássico da literatura brasileira, hoje publicado em onze idiomas em dezenas de países. A obra trata da natureza e da estrutura social do mundo sertanejo nordestino. De estilo bem-elaborado e prolixo, Os Sertões constitui a primeira análise sociológica sobre as populações camponesas carentes do Brasil.


À época do Império, na segunda metade do século XIX, o Brasil vive sérias questões políticas externas, como o rompimento de relações diplomáticas em 1863 com o Reino Unido e a intervenção brasileira no Uruguai em 1864. Um dos efeitos dessa intervenção resultaria no maior conflito armado já ocorrido no continente americano: a Guerra do Paraguai, que duraria cinco anos.

No auge do conflito, em 20 de dezembro de 1866, nasce no município de Cantagalo, então Província do Rio de Janeiro, Euclides Rodrigues Pimenta da Cunha, filho de Manuel Rodrigues Pimenta da Cunha e de Eudóxia Rodrigues Pimenta da Cunha. Euclides e a irmã, Adélia, mal chegam a conhecer a mãe, que morre de tuberculose quando Euclides está com apenas três anos de idade.

Órfão de mãe, Euclides passa a infância e a adolescência na casa de parentes. Primeiro mora com duas tias, em Teresópolis e São Fidélis, onde inicia seus estudos. Depois, antes de se mudar para a casa de um tio que mora no Rio de Janeiro, passa dois anos em Salvador, com os avós paternos.

Ainda jovem, Euclides e alguns colegas fundam o jornal estudantil O Democrata, no qual publica suas primeiras produções literárias. As 84 poesias escritas nessa época trazem a forte influência de Castro Alves, Gonçalves Dias e Fagundes Varela.

Aos dezenove anos, Euclides decide seguir a carreira de engenheiro civil. Contudo, depois de cursar por um ano a Escola Politécnica, forçado talvez por motivos econômicos, transfere-se para a Escola Militar da Praia Vermelha. A revista da escola - A Família Acadêmica - tem nele um assíduo colaborador. Defensor extremado dos ideais republicanos, Euclides envolve-se, em seu primeiro no como militar, num incidente que seria comentado nos jornais antimonarquistas e chega a repercutir até nas tribunas do Senado Federal.

Inconformado com a proibição do diretor de impedir as manifestações dos estudantes no desembarque de Lopes Trovão - republicano que passara um período na Europa pro pressão do governo monárquico -, Euclides sai do alinhamento quando o ministro da Guerra passa a tropa em revista, atira-lhe aos pés o espadim e, diante dos oficiais boquiabertos, grita um viva à República.

Recolhido á enfermaria como insubordinado e afetado das faculdades mentais, seu desligamento dos quadros do Exército por incapacidade física sem maiores consequências, é conseguido graças à intervenção de alguns amigos seus junto ao imperador. Euclides transfere-se para a cidade paulista de Descalvado, onde seu pai é proprietário de uma pequena fazenda. Encontra boa acolhida entre os membros do Partido Republicano Paulista, que lhe franqueiam as páginas do jornal A Província de S. Paulo, para o qual escreve artigos de natureza política, assinando-se Proudhon.

Em 15 de novembro de 1889 o Brasil acorda sob um novo regime de governo. Cai o império, a monarquia já não dirige o destino do país. Um governo provisório é empossado: o marechal Deodoro da Fonseca exerceria o poder até novembro de 1891. Sem conseguir superar os obstáculos iniciais do regime republicano, Deodoro renuncia. É sucedido por seu vice, o também marechal Floriano Peixoto, mas levantes, revoltas e tentativas de golpe vão minando seu governo.

Euclides volta para o Rio de Janeiro e é reintegrado no Exército. Promovido a alferes-aluno, matricula-se na Escola Superior de Guerra, de onde sai em 1892 como primeiro-tenente da arma de artilharia e coadjuvante de ensino teórico na Escola Militar. Em 1893 irrompe a Revolução Federalista; a guerra civil se estenderia até 1895, já no governo de Prudente de Morais, empossado em novembro de 1894. Nessa época já está casado com Ana Sólon Ribeiro, de apenas dezesseis anos, filha do major Frederico Sólon Ribeiro, que fora o encarregado de entregar ao imperador deposto a ordem de abandonar o país no dia seguinte ao da Proclamação da República. A comprovada lealdade ao novo regime, porém, não impede Euclides de protestar, pelas páginas da Gazeta de Notícias, contra a proposta de um senador cearense de executar sumariamente todos os presos políticos recolhidos na ilha das Cobras, e em outros presídios, em represália à colocação de uma bomba, que não chegara a explodir, na escadaria da redação do jornal O Tempo. Entre os presos está seu sogro, então elevado à patente de general.

Em virtude desse protesto, é enviado para a cidade de Campanha como auxiliar da Diretoria de Obras Militares de Minas Gerais. Encarregado da construção de um quartel, recebe dos campanhenses uma inusitada homenagem para um jovem de 28 anos: a inauguração de uma praça com seu nome, em reconhecimento pelos serviços prestados.

Desiludido com a República, cujos ideais, porém, continua a defender, e decidido a abandonar a carreira militar, passa a dedicar a maior parte do tempo ao estudo de problemas brasileiros e de teorias socialistas, pelas quais já vinha se interessando havia algum tempo.

Desligado do Exército em julho de 1896, Euclides é nomeado engenheiro-ajudante de primeira classe na Superintendência de Obras Públicas de São Paulo, a princípio em São Carlos do Pinhal.

Nesse período de transição e consolidação do novo regime, destacam-se os movimentos de cunho político e religioso que levam à Campanha de Canudos, no sertão da Bahia.

Euclides reinicia sua colaboração nos jornais com dois artigos sob o título único de A Nossa Vendéia, publicados em março e julho de 1897 em O Estado de S. Paulo. E é dando vivas à República que Euclides segue rumo a Canudos em agosto desse mesmo ano, como repórter do jornal e como adido ao Estado-Maior do Ministério da Guerra. Contudo, testemunha ocular das atrocidades cometidas, antes mesmo de deixar Canudos já tem em mente o plano de escrever uma obra de ataque às expedições enviadas para massacrar os sertanejos revoltosos.

De volta a seu emprego na Superintendência de Obras Públicas, Euclides logo é transferido de São Carlos do Pinhal para a cidade de São José do Rio Pardo, onde, entre 1898 e 1901, cuida da reconstrução de uma ponte sobre o rio Pardo.

Nesse período conclui a redação do livro que o consagraria como um dos maiores escritores da língua portuguesa, Os Sertões, que viria a ser publicado em dezembro de 1902, quando Euclides já estava residindo em Lorena. Com o sucesso imediato da obra vem consagração nacional, traduzida em sua eleição para a Academia Brasileira de Letras e em sua indicação para sócio-correspondente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.

Essas distinções, contudo, não resultam em algo mais prático: um trabalho condizente, ao menos, com sua folha de serviços. Nem mesmo o sucesso de seu livro, com duas edições em menos de sete meses, lhe abre novas perspectivas de um emprego estável. Ao contrário, tendo seus vencimentos reduzidos, deixa o cargo na Superintendência de Obras e volta a colaborar na imprensa, como solução provisória para a sobrevivência da família. Provisória também é sua mudança para Guarujá, como chefe da seção da Comissão de Saneamento de Santos. Em 1904, de volta ao Rio, a iniciativa do barão do Rio Branco, ministro das Relações Exteriores, de nomeá-lo para chefiar a Missão de Reconhecimento do Alto Purus faz crer que seu valor começa, afinal, a ser reconhecido. Mas é justamente essa missão - levada a cabo com o escrúpulo e a seriedade com que Euclides se desincumbe de todas as tarefas que lhe são confiadas - que cria a série de circunstância que culminariam com sua morte.

Euclides se ausenta de casa durante mais de um ano: parte para o Amazonas em dezembro de 1904 e permanece lá durante todo o ano de 1905. Ao voltar, no início do 1906, encontra a mulher grávida de alguns meses e sua casa frequentada pelos irmãos Dilermando e Dinorá, amigos de Sólon, seu filho mais velho.

A primeira reação de Euclides ante a situação inesperada é a de fechar os olhos diante da evidência. Registra como seu filho, que morre pouco depois de nascer, não dá importância aos comentários que apontam o jovem Dilermando Cândido de Assis como seu rival e mergulha mais do que nunca nos trabalhos de que o incumbe o Itamarati, como adido sem função fixa ao gabinete de Rio Branco. Sua vontade, revelada mais de uma vez aos amigos, que nada sabem do que se passa, é voltar para o Amazonas, como fiscal das obras da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, ou ir para a Venezuela, a fim de cuidar d demarcação de fronteiras em litígio. Mas esses projetos de fuga não se concretizam. Por insistência do escritor Coelho Neto, Euclides concorda em se inscrever no concurso para professor de Lógica no Ginásio Nacional. Tira o segundo lugar, mas assim mesmo é nomeado para o cargo. Catedrático, dá apenas dez aulas, a última no dia 13 de agosto de 1909. De personalidade contraditória, "misto de celta, de tapuia e grego", como se define em uns versos escritos a um amigo, a resolução de medir forças com um rival vinte anos mais moço, e além disso campeão de tiro, é mais do que um gesto desesperado, capaz de lavar sua honra: é um verdadeiro suicídio. Euclides não se sente mais com forças para viver. Além da situação familiar insustentável, os primeiros sintomas da tuberculose, que já vitimara sua mãe, começam a se manifestar.

Sem forças físicas e emocionais para adotar a linha de conduta otimista que ele próprio transmite em Uma Comédia Histórica - "levar as coisas a rir mesmo quando elas são de fazer-nos chorar" - e decidido a pôr termo a uma situação que já se prolonga por mais de três anos, Euclides cai morto numa troca de tiros com o amante de sua mulher numa casa da Estrada de Santa Cruz, junto à estação da Piedade, subúrbio do Rio de Janeiro, no dia 15 de agosto de 1909, aos 43 anos de idade. O rigor científico, as preocupações humanísticas e a extraordinária habilidade poética são as características mais marcantes na produção literária de Euclides da Cunha. Sua obra-prima, Os Sertões, não é um frio relatório ou um conjunto de artigos jornalísticos neutros, mas a denúncia apaixonada da miséria e do isolamento da população do sertão nordestino e da ignorância, descaso e desumanidade com o que o governo central tratou o levante popular de Canudos.

Traduzido para mais de dez idiomas, Os Sertões assegurou ao seu autor projeção mundial e o reconhecimento como um dos grandes clássicos da literatura brasileira.

Leia mais sobre Euclides da Cunha na postagem Caravanas Euclidianas: Euclides da Cunha - Os Sertões - O Enigma dos Sertões, feita aqui no Blog "Nós Todos Lemos".


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