sábado, 14 de maio de 2016

Allison Hoover Bartlett - O homem que amava muito os livros.

O homem que Amava muito os Livros -
Allison Hoover Bartlett

NA ESTANTE, Revista Cidade Nova, Maio 2016 - n. 5, por Fernanda Pompermayer.

Este é um livro para amantes de livros. É a história real - ocorrida nos Estados Unidos, na virada do milênio - de uma escritora em contato com um famoso ladrão de livros raros (John Gilkey) e um livreiro-detetive (Ken Sanders) cuja meta é capturar o ladrão.

O que leva uma pessoa a roubar?

A roubar não por necessidade, mas por um capricho intelectual? Por aspirar ao status que uma biblioteca repleta de obras valiosas e incomuns confere? Será apenas a ambição pelo poder? "Eu não podia conceber o poder que os livros exerciam para motivá-lo a arriscar-se continuamente a passar um tempo na prisão por sua causa", declara Bartlett.

Há uma enorme quantidade de livros "que custam mais do que Gilkey pode ou deseja pagar por eles; por isso, ele os rouba", admite a autora. "Isto, segundo a sua lógica, é apenas uma correção aplicada ao sistema."

Para o crítico cultural Walter Benjamin, "a posse é a relação mais íntima que alguém pode manter com os objetos. Não que (por meio da posse) estes se tornem vivos para seu possuidor; mas este torna-se vivo através deles."

Além de analisar os meandros da psicologia humana, essa obra de Bartlett é uma verdadeira excursão guiada pelo universo dos livros, livrarias, bibliotecas, com todos os tesouros que encerram.

Encontrar-se em meio a tantos livros tão cativantes é uma experiência inebriante, mesmo para o amante de livros moderado; mas para Gilkey, tratava-se de um acontecimento tão importante quanto inesquecível e vertiginoso (p. 56).

Gilkey deu vasão à sua compulsão em grandes feiras de livros,na visita a bibliotecas e, principalmente, com a "aquisição" em livrarias especializadas em raridades. O ladrão costumava aplicar calotes milionários, com cheques sem fundos ou débito em contas falsas. Essas manobras Mas o levaram à cadeia diversas vezes. Mas era só voltar à liberdade que os roubos tornavam a acontecer. A pergunta que não queria calar na mente de Bartlett era: seria Gilkey um homem normal ou mentalmente doente? 

Através de sua coleção, Gilkey poderia ocupar uma posição reverenciada, em um mundo idealizado. Talvez ele fosse apenas um pouquinho mais louco do que as outras pessoas (p. 161).

Não pretendia perder o contato nem com Gilkey, nem com Sanders. Nós três éramos buscadores muito persistentes: Gilkey, por livros; Sanders, pelos ladrões de livros; e eu, pelas histórias de ambos.
O que eu não poderia ter adivinhado era que o meu papel na história se tornaria mais complexo. Deixaria o papel de observadora objetiva, para entrar diretamente no enredo (p. 153).

Os livros podem nos enraizar em algo  maior do que nós mesmos, algo real. Por este motivo, creio que os livros encadernados, feitos de papel, sobreviverão, até mesmo muito tempo depois de os livros eletrônicos se tornarem populares. Quando caminho por uma rua e vejo pessoas passarem poor mim, absortas no universo dos seus i-Pods ou telefones celulares, não posso evitar pensar que a nossa conexão com os livros ainda é, após todos esses séculos, tão importante quanto intangível. É essa conexão que torna os velhos livros que pertenceram aos meus pais e aos meus avós tão especiais para mim... (p.166)

Antes mesmo que O Homem que amava muito os livros fosse impresso o "bibliodetetive" Sanders alertou seus colegas livreiros sobre o mais recente golpe de Gilkey, no Canadá. E o personagem principal deste livro ainda não tinha sido preso.

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