sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Antonio Carlos Secchin


Antonio Carlos Secchin

O dia. Arcos da manhã
em nuvem. Riscos de luz
como vidros arriados.

Antonio Carlos Secchin morou em Cachoeiro de Itapemirim até 1959, ano em que sua família mudou-se para o Rio de Janeiro. Os primeiros poemas foram escritos aos 13 anos de idade, inspirados pela leitura assídua de Drummond, Bandeira e Pessoa. Quatro anos depois, ganhou menção honrosa em um concurso de poesia e ingressou na Faculdade de Letras da UFRJ, onde fez mestrado e doutorado, para, em 1992, tornar-se professor titular de literatura brasileira.


Sobre seu livro de estréia, Ária de estação, José Guilherme Merquior comentou: "Em Antonio Carlos Secchin já começa a boa poesia, a bem dizer, ainda indecisa entre a imaginação do símbolo e a verdade alegórica da geração de 70."

Secchin viveu quatro anos em Bordeaux, onde lecionou cultura e literatura brasileira. Em 1983, já de volta do Brasil, publicou o segundo livro de poesia, Elementos, que mereceu o seguinte comentário de Benedito Nunes: "A palavra poética, já não mais um elemento de integração órfica, é corruptora da linguagem: arruina-se até a anulação do significado no silêncio."

Com seu primeiro livro de ensaios, João Cabral: a poesia do menos, Antonio Carlos Secchin conquistou três prêmios, e um comentário elogioso e críticos que já se debruçaram sobre a minha obra, destaco Antonio Carlos Secchin. Foi quem melhor analisou os desdobramentos daquilo que pude realizar como poeta." Este foi o primeiro de uma série de trabalhos sobre a produção poética contemporânea, que o poeta vêm publicando em grandes jornais brasileiros e do exterior.

Em 1996, Secchin reuniu artigos e ensaios diversos no volume Poesia e desordem, livro que Antônio Houaiss aponta como uma "preciosa visão de conjunto da literatura brasileira a partir de Bandeira e Drummond, com uma amorosa obsessão por Cabral e um espantoso senso crítico de equilíbrio para com a pululação de tendências, certezas, manifestações incruentas ou cruentas de 'verdadeiras' poesias - caos aparente que Secchin deslinda com serenidade".

1952, nasce no dia 10 de junho, no Rio de Janeiro.


"A possibilidade de negociar com as palavras as frestas de perturbação e mudança de que elas e nós necessitamos continuarmos vivos: a isso dá-se o nome de estilo."
                                               
                                                                                    Antonio Carlos Secchin



"A crítica literária do autor encontra-se instrumentada não apenas por um esplêndido domínio verbl, como sublinha Antônio Houaiss, mas também pelo pleno conhecimento da matéria de que se ocupa, bem como por um outro tempero, o humor."

                                        Ivan Junqueira


Noturno
           a Ricardo Thomé

Os reis de Copa
ostentam eretas
espadas mestras
em frente ao mar.
Transatlânticos desejos
encalhados na areia.
Dramas de paus
e valentes seios
expostos à carícia
de dólares e brisas.
Eis Lizbeth, ou João Batista,
ouro puro do subúrbio,
ex-ás do cais do porto,
atual contorcionista
do pescoço de pilotos
à procura de conquistas.
O seu rosto é reformado
por algum cirurgião-artista,
pois queixo, nariz e olhos
revelam influência cubista.
Passeiam pares de bicicletas
sob um céu abotoado de estrelas.

Na luz plástica dos postes
passam famintas pombas pretas.
Fome de tudo, em meio à neblina:
saliva, esperma, cocaína.
O bigode roça a nuca sôfrega.
E enquanto o corpo exala e treme
passa, ácida, a patrulha
de um insone PM.
O amor é de lei
ou desviado? Pouco importa;
só sabe celebrar
os rituais de Marte.
Mas frente a íma tão terreno
caos e lei se entredevoram
em cabine ao abrigo do sereno.
Ao guarda rapaz apraz, ao menos,
a ronda noturna no planeta Vênus.



Obras do autor

POESIA: Ária de estação, 1973; Elementos, 1983; Diga-se de passagem, 1988.

OUTRAS: Movimento (novela), 1975; João Cabral: a poesia do menos (ensaio), 1985; Antologia da poesia brasileira (org.), 1994; Poesia e desordem (ensaios), 1996.


Fonte: 100 Anos de Poesia - Um panorama da poesia brasileira no século XX - volume II - organização Claufe Rodrigues e Alexandra Maia - O Verso Edições - 2001 - Rio de Janeiro.

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