sábado, 9 de fevereiro de 2013

Tolstói



Dada a largada para o trabalho braçal, conforme mencionado na postagem Grandes Autores - Biografias, de edição da vida e obra de grandes autores clássicos. Tenho a alegria de iniciar pelo grande Tolstói.

1828 - Em 28 de agosto nasce Leon Tolstói, em Iásnai Poliana, província de Tula.
1837 - Morre o pai de Tolstói.
1841 - Muda-se para Kazan.
1844 - Estuda letras orientais na Universidade de Kazan.
1845 - Transfere-se para a faculdade de direito.
1847 - Volta a Iásnai Poliana.
1848 - Viaja a Moscou.
1849 - Instala-se em São Petersburgo e retorna o curso de direito.
1851 - Parte para o Cáucaso.
1853 - Combate em Sebastópol.
1855 - Publica Relatos de Sebastópol. Volta a São Peterburgo.
1859 - Funda uma escola em Iásnaia Poliana.
1862 - Casa-se com Sófia Andriéievna Bers.
1863 - Fecha a escola. Publica Os Cossacos. Começa a escrever Guerra e Paz.
1865 - Inicia a publicação dos primeiros capítulos de Guerra e Paz no Mensageiro Russo.
1869 - Conclui Guerra e Paz.
1875/1877 - Publicação de Ana Karênina (*) no jornal Mensageiro Russo.
1880 - Publica Confissão.
1886 - Publica A Morte de Ivan Ilitch.
1889 - Publica Sonata a Kreutzer.
1891 - Organiza a ajuda aos flagelados da seca.
1899 - Publica Ressurreição.
1901 - É excomungado pela Igreja Ortodoxa.
1904 - Explode a guerra russo-japonesa.
1905 - Ocorrem levantes populares na Rússia.
1910 - Em 28 de outubro Tolstói foge de casa. Morre em 7 de novembro na aldeia de Astápavo. É sepultado dois dias depois no bosque de Stári Zakas, em Iásnaia Poliana.

(*) Ana Karênina
Uma das melhores obras de Tolstói, o romance Ana Karênina narra a história do amor controvertido e difícil vivido pela protagonista Ana na Rússia czarista. Ela é uma mulher casada que vai atrás de seu amante Vronski mas, arrebatada por uma paixão proibida, resvala cada vez mais para um abismo de mentiras e destruição. Tolstói questiona o significado da vida e da justiça social tendo como pano de fundo as crises familiares. É o maior romance do adultério na literatura universal.


Faz mais de meio ano que ingleses e franceses investem, sem trégua, contra Sebastópol. A cidade sitiada não se rende. Seu drama diário inspira os jornais da Rússia, penetra nos salões da nobreza, faz chorar o povo simples.

Instalada em seu palácio, Maria Alexándrovna ouve as notícias e se comove. Porém nunca lhe viera aos olhos uma lágrima pela sorte de Sebastópol. Até que um dia caem-lhe nas mãos três histórias de luta - três pequenos contos de um soldado desconhecido; pela primeira vez, desde o começo da guerra, a czarina abandona-se em um longo pranto. Leon Tostói. O nome não lhe é totalmente estranho Lembra-se de tê-lo ouvido ligado a uma família de aristocratas, mas não tem certeza. Põe, então, os secretários da corte à procura de mais dados.

Tolstói, pai, morrera em 1837. Viúvo, deixara cinco filhos: Dmítri, Sérgio, Nicolau, Maria e Leon, este nascido em agosto de 1828. Tia Alieksandra Osten-Sacken incumbira-se de cuidar das crianças.
Nesse tempo é moda entre os nobres estudar com professores estrangeiros. Não fica bem um aristocrata expressar-se em russo como qualquer camponês, e Alieksandra contrata um preceptor alemão para os sobrinhos.

Quatro anos dura o encargo de tia Alieksandra, na cidade de Iásnaia Poliana. Em 1841 ela morre, e os meninos são entregues aos cuidados de outra irmã de seu pai, Pielagueia, de rígidos princípios morais. Assim que põe os olhos em Leon, decide fazer dele um militar; como alternativa, pode ser diplomata. Em 1844, aos dezesseis anos, Leion vê-se estudando línguas orientais na Universidade de Kazan. Mas revela-se uma decepção para Pielagueia: nem se porta de acordo com o manua de boas maneiras da aristocracia nem se distingue nos estudos. Transfere-se então para o curso de direito, mas é reprovado nos primeiros exames. Desiludido com a escola e cansado de ouvir as recriminações da tia, retorna a Iásnai Poliana em 1847. Porém o tempo que fica naquele lugar desolado é pouco. Meses depois vai para Moscou. Essa cidade, contudo, também parece não ter muito a lhe oferecer. Em 1849, aos 21 anos, parte para São Petersburgo, e aí retoma o curso de direito. Não se distingue como aluno, e sim como farrista de primeira e namorador incorrigível. Instável, nem as noites nem as mulheres conseguem retê-lo. Meses mais tarde volta a Iásnaia Poliana. Começa a ler a Bíblia e as obras de Jean-Jacques-Rousseau. Ao terminar as leituras, sente-se ainda mais inquieto.

Seu irmão Nicolau acaba de voltar do Cáucaso, onde estivera em combate. Os relatos de suas aventuras despertam em Leon o desejo de partir para a luta. Em 1981 está no Cáucaso, combatendo com bravura. Encorajado pelos elogios e encantado com a vida militar, presta exame em janeiro de 1852 para ingressar no Exército e é admitido. Ao mesmo tempo publica os capítulos de A História da Minha Infância, em relato autobiográfico de sua meninice, na revista O Contemporâneo, de São Petersburgo.

Dois anos depois explode a Guerra da Criméia, conflito que opôs França, Inglaterra, Turqui e o Piemonte à Rússia. Toltói é designado para lutar em Sebastópol, onde compõe os contos que tanto comoveriam a rainha Maria Alexándrovna.

Volta a São Petersburgo depois do final da guerra e é recebido como herói. O tempo que fica ali é pouco. Em 1857 parte para o exterior - Alemanha, França, Itália, Suíça. Dois anos depois, volta a Iásnaia Poliana carregado de livros e de idéias formigando na cabeça. Sente urgência em fazer algo pela Rússia, e acha que deve começar pelos que lhe estão mais próximos: os servos. Preocupa-se com o analfabetismo, e em 1859, aos 31 anos, funda em sua propriedade uma escola para crianças e adultos. Como lhe falta conhecimento de pedagogia, vai para Dresden estudar. Antes de reiniciar suas atividades de professor, detém-se em Hyères, sul da França, onde seu irmão Nicolau tenta curar-se de uma enfermidade pulmonar. Ao lado dele começa a escrever Os Cossacos (1863), reminiscência de sua estada no Cáucaso.

Apesar dos cuidados médicos, Nicolau sucumbe à doença, o que abala Leon profundamente. Em vez de voltar à Rússia, reúne-se ao amigo Alexandre Herzen em Londres, e é aí que festeja a emancipação dos servos decretada por Alexandre II. É uma grande vistória dos ocidentalistas, que combatem o isolamento da Rússia, a monarquia e a servidão e lutam por uma aproximação cada vez maior com o Ocidente.

Leon, um ocidentalista convicto, volta a Iásnaia Poliana, aos 34 anos, e póe-se à disposição do governo. Trabalha como juiz de paz da província, com o encargo de contornar possíveis problemas entre proprietários e antigos servos, quando se surpreende a contemplar Sófia Andriêievna com um novo olhar. Conhece-a desde criança, mas agora, aos dezessete anos, ela lhe parece adorável. O escritor tem o dobro da idade da jovem, mas isso não chega a ser obstáculo, e o casamento realiza-se em setembro de 1862.

A felicidade de Tolstói seria completa se ele não tivesse de fechar a escola em 1863 e suspender a publicação que havia fundado logo depois do casamento.

As dificuldades financeiras levam Tolstói a encarar a literatura como um meio de vida. Quer escrever algo grandioso, e a resistência às invasões napoleônicas do início do século dezenove são pano de fundo para o romance Guerra e Paz, que começa a ser escrito em 1863 e só é concluído em 1869. Os primeiros capítulos começam a ser impressos em 1865 no Mensageiro Russo.

À medida que a narrativa evolui, o entusiasmo dos leitores aumenta.

Guerra e Paz propicia-lhe os lucros pretendidos, e dessa forma consegue reabrir a escola de Iásnaia Poliana, tempo para ler Goethe, Cervantes e Dickens e estudar grego para conhecer Ilíada no original.

É 1875. Numa pequena aldeia perto de Iásnaia Poliana nada acontece que consiga sacudir o marasmo daquela gente. Todo o divertimento é reunir-se na estação, uma vez ou outra, e ver passar o trem, que raramente deixa algum passageiro. Um dia corre sangue sobre os trilhos. A aldeia se agita. Uma mulher, sobrinha e amente de um homem poderoso da aldeia de Iássienki, desesperada com sua vida amorosa, joga-se  à linha do trem. Tolstói parte imediatamente para a vila, quer ver o cadáver. Decide investigar as razões que teriam levado a mulher ao suicídio. Há tempo pretende escrever a história de uma dama da alta sociedade russa envolvida numa trama de paixões e decadência. O suicídio da mulher fornece-lhe o desfecho para seu romance e o perfil para a protagonista. E Ana Karênina ganha vida.

Publicado de 185 a 1877 no jornal Mensageiro Russo, Ana Karênina agrada intensamente ao público e provoca variadas reações entre os críticos. Dentre os grandes romancistas russos, o único a aplaudir irrestritamente o livro é Dostoiévski.

Críticas e elogios deixam o autor indiferente. Suas preocupações haviam ultrapassado os limites da arte para concentrarem-se em problemas morais e religiosos. A pergunta sobre o sentido da vida repete-se em seu cérebro com insistência cada vez maior. Não pode continuar adiando a procura da resposta. Busca-a na religião ortodoxa, convive em mosteiros com monge, estuda os evangelhos: nenhuma explicação o satisfaz.

Em 1886, aos 58 anos, por insistência da mulher e dos admiradores, temerosos de que ele abandone a literatura, Tolstói abre um parênteses em suas investigações religiosas para escrever A Morte de Ivan Ilitch. O herói é um funcionário bem-sucedido, casado com uma boa moça e que vive como todos esperam que viva. Um dia sofre um acidente, os médicos não conseguem curá-lo, o homem definha lentamente. Todos se afastam dele, exceto um pobre servo que o assiste na agonia. Ivan Ilitch, em meio ao sofrimento, percebe a falsidade de sua vida e deseja libertar-se dos seus enganos antes de morrer. confusamente, descobre na caridade a verdadeira chave da salvação.

A conclusão à qual chega o personagem é aplicada na prática pelo autor, em 1891. O verão fora rigoroso, os campos russos estavam secos, os lavradores, desesperados. O governo veta qualquer iniciativa particular de ajuda aos flagelados. Tolstói, ignorando a proibição, organiza postos de serviço, recolhe fundos, faz campanhas por meio de artigos veementes. Contudo, nem sempre o romancista vive de acordo com as idéias que professa. Em Sonara a Kreutzer, publicado em 1889, por exemplo, prega a abstinência sexual entre os casais. No mesmo ano da publlicação nasce-lhe o décimo terceiro filho; aconselha o desapego dos bens materiais, mas a mulher e os filhos não lhe permitem vender as propriedades; deseja viver como mendigo e tenta uma experiência desse tipo, mas logo o reconhecem e o excluem do convívio com os pobres.

A atitude de Nicolau II fornece-lhe a oportunidade de praticar seus ideais. O povo anda insatisfeito com o czar; alguns desejam partir para a América, mas nem todos têm recursos suficientes para isso. Tolstói, então, volta à literatura com o objetivo de angariar fundos para a emigração dos insatisfeitos. Publica, em 1899, aos 71 anos de idade, Ressurreição, a história de uma camponesa que, seduzida e, depois, abandonada pelo filho da patroa, torna-se prostituta.

A Igreja Ortodoxa russa vem seguindo atentamente a evolução do tolstoísmo e não vê com bons olhos as pregações do mestre. Ressurreição parece ter sido a gota decisiva que provoca o rompimento com o escritor. Em 1901 Tolstói é excomungado. O país inteiro protesta. Mas o romancista limita-se a reafirmar seu próprio credo. Achara, enfim, respostas para suas dúvidas. Agora só o preocupa a saúde debilitada. No verão desse mesmo ano parte para a Criméia, a conselho médico. Acompanha a declaração de guerra entre Rússia e Japão a distância. Com a derrota, a Rússia perde a ilha de Sacalina, milhares de soldados e qualquer pretensão sobre a posse da Coréia. O descontentamento popular explode no ano seguinte, nos episódios do "Domingo Sangrento", de Moscou, quando mil operários são mortos pela guarda czarista, e na revolta do couraçado Potemkin.

Cansado e enfermo, aos oitenta anos Tolstói redige um artigo vibrante de indignação, que a censura imperial veta. Não Posso Calar, contudo, sai impresso em jornais estrangeiros, despertando a consciência da Europa para os problemas russos.

Apesar da severa vigilância, o artigo circula na Rússia de maneira clandestina. A polícia nada pode fazer contra Tolstói - velho e amado -, mas sai à caça dos que participam da veiculação do escrito e prende quantos pode.

Rebeliões, matanças, enfermidades, disputas - os últimos anos de Tolstói transcorrem dolorosos. Sófia começa a atormentá-lo para morar na corte. Pressiona-o de tal modo que em outubro de 1910 o escritor foge de casa. Conforme declara, deseja "viver em solidão e recolhimento os últimos dias da minha existência". Pressentindo que não seriam muitos esses dias, leva consigo Alieksandra, a filha mais querida, e o médico Pietróvitch, um velho amigo. Pretende tomar o rumo do sul, mas o corpo cansado não consegue ultrapassar a aldeia de Astápovo.

A notícia da fuga espalha-se rapidamente. A pequena vila inunda-se de discípulos, admiradores, fotógrafos, cinegrafistas. O escritor permanece encerrado em seu quarto, esperando mansamente a morte.Na manhã de 7 de novembro a espera acaba. Dois dias depois Tolstói é enterrado no bosque onde brincara na infância, em Iásnaia Poliana.

Ninguém lhe constrói monumentos nem lhe grava lápides. Seu túmulo é uma elevação de terra, coberta de grama. Leon Tolstói não desejara mais que isso.

Mais sobre o autor em cinema falado, com o filme "A última Estação".


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