domingo, 30 de dezembro de 2012

Sinclair Lewis - Babbitt


"...escrever é tentar escapar de alguma coisa."
(Sinclair Lewis)

Babbitt / Sinclair Lewis, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura, pela primeira vez concedido a um autor americano em 12 de dezembro de 1930, data que recebe o prêmio, pronuncia o importante discurso "O Medo Americano da Literatura", atacando as tradições aristocráticas e o academicismo dos críticos americanos.

Babbitt, nome do personagem principal, um homem burguês de meia idade, casado, três filhos, corretor de imóveis, desajustado à sua exemplar família e sua condição social, vive em Zenith, próspera cidade americana do interior, com seus clubes exclusivos, onde o autor expõe um retrato da situação econômico-social do homem americano empreendedor do início do século XX, que acaba por perdurar por todo esse século tornando o romance ainda atual.

Babbitt inicia a história expondo toda a sua insatisfação pessoal e desmotivação para a vida familiar embora acredite em si e no 'progresso' de sua nação. Em um dado momento de vida, inquieto na existência, passa a viver uma vida boêmia, época em que encontra uma amante tornando-se 'quase' um radical, apesar de demonstrar ser pouco conhecedor em essência das questões sociais intrínsecas à sua cidade, que tanto discursa conhecer.

Publicado em 1922, Babbitt desperta uma onda de polêmicas que o escritor não poderia ter imaginado. Em algumas regiões Lewis é visto como "deformador da vida americana". Todos os jornais reservam espaço para comentar o livro. As críticas variam muito e vão de extremo a extremo.
A maioria dos europeus passa a julgar a nação americana composta somente por babbitts. Revoltados, os americanos dizem que o escritor não apresenta um panorama, mas sim uma caricatura da América.
O romance foi originário de sua vivência em Cincinnati, Ohio, onde observa o comportamento e gíria de seus habitantes. Todo esse trabalho de "laboratório" resulta em Babbitt, cuja ação se passa na cidade fictícia de Zenith.

Sinclair Lewis
A vida de sempre: o clube, as associações, a política, o bar, a barbearia. A rua principal da cidade, onde se concentram os homens para conversar, relembrar coisas do passado, discutir o comércio, falar do falecido mais recente ou do filho mais novo do homem da esquina.
Levantam-se cedo para sentir o ar puro e saudável. Cumprimentam os conhecidos que se cruzam pelas ruas. Perguntam às mulheres a que horas será o culto. Discutem os ensinamentos do Senhor. Observam as mesmas pessoas de sempre e são sempre observados por elas.
O sol se põe. E novamente os homens saem à rua. Concentram-se de novo na rua principal. Encontram-se no bar, onde bebem e jogam pôquer. No fim da noite, pouco mais de de horas, a maioria deles vai para casa. Cada qual com uma recordação e sonhos antigos. E a esperança de que nada se modifique no dia de amanhã. Até que cada um termine sua missão de viver. Numa cidade do interior.
Assim é Sauk Centre, Minnesota. Onde, antes de se tornarem adultas, as crianças nadam, pescam ou, montadas numa jangada, enfrentam as águas turbulentas do Sauk Lake. No inverno, esquiam. No verão, roubam melões.
Mas Harry Sinclair Lewis é uma criança diferente. Nascido em 7 de fevereiro de 1885, o mais novo dentre os três filhos do médico Edwin J. Lewis e da professora Emma F. Kermott sofre o primeiro abalo aos cinco anos, quando perde a mãe. Tem seis quando seu pai se casa de novo com Isabel Warner, uma mulher bastante enérgica. Na infância, não tem nem carinho nem afeto. É igual aos outros porque gosta de brincar e de imaginar mundos fantásticos. Mas Lewis prefere se divertir sozinho, distante de todos.
Lewis atinge a adolescência sem grandes novidades. A cidade quase não mudara. Nem o pensamento de seus habitantes. Aos quinze anos começa a escrever um diário, no qual faz descrições detalhadas "hora a hora", método que mais tarde reapareceria mais bem desenvolvido em seus livros. Como qualquer jovem, gosta de poesia. Cria versos que imitam Kipling, seu poeta predileto.
Em 1902, aos dezessete anos, matricula-se na Universidade de Yale, em Connecticut. É um bom aluno, mas conserva distância dos companheiros. Nos momentos de solidão escreve poesias e dedica-se à leitura de Walter Scott e Charles Dickens. Aos dezenove anos publica no Yale Literary Magzine seu poema Lancelot.
Continua colaborando em vários jornais, até que consegue uma vaga entre os redatores do Literaru. Mas o prazer de escrever não é suficiente para compensar a vida monótona que leva na universidade. Já está no último ano do curso quando resolve deixá-lo para participar da comunidade Helcon Hall, criada pelo escritor Upton Sinclair, em Nova Jersey. Durante o mês em que vive ali conhece os filósofos William James e John Dewey. Em seguida, viaja para Nova York, decidido a firmar-se como escritor. Não obtém êxito e parte para o canal do Panamá, que está em iníciode construção. Além de seus 22 anos, leva uma gramática da língua espanhola,a Bíblia e A Idade Difícil, de Henry James, e a vontade de conhecer outros povos. Mas essa experiência também não o satisfaz. Volta par Yale e forma-se em junho de 1908. No mesmo ano termina uma pequena história. O Caminho de Roma, que seria publicada somente três anos mais tarde em um jornal de Minneapolis.
Até 1910 leva uma vida incerta, viajando pelos Estados Unidos e fracassando como jornalista. De 1910 a 1914 trabalha em editoras de Nova York. Numa de suas férias escreve, sob encomenda, o livro infantil Hike and the Aeroplane. Em 1914 publica Our Mr. Wrenn.
O livro não é sucesso de venda, mas a crítica faz comentários favoráveis a seu respeito
Ainda em 194 casa-se com Grace Livingstone Hegger e vai viver em Port Washington No ano seguinte publica A Trilha do Falcão. Mas sua situação só melhora realmente quando seu conto Nature, Inc. aparece no jornal Saturday Evening Post.
Depois de ter mais alguns trabalhos publicados, que lhe rendem 3000 dólares, abandona o emprego e, junto com a esposa, parte para uma série de viagens pelos Estados Unidos.
Entre uma viagem e outra escreve contos, que são publicados e várias revistas. Além disso prepara Os Inocentes, que é laçado no ano de 1917 juntamente com O Emprego, considerado o melhor de seus primeiros livros.
Em1919,aos 34 anos, lança Free Air e inicia um novo romance. Essa dinâmica de trabalho tem um significado muito importante: Sinclair Lewis está conseguido romper o círculo vicioso de uma cidade de interior.
A mentira, a hipocrisia, a falsidade são coisas muito fortes para uma criança sensível. E desde muito cedo Lewis descobrira que a afetividade tão decantada das pequenas cidades não passava de fantasia produzida pela imaginação de alguns românticos. Pequenas contrariedades e a falta de afeto na infância levam-no a pensar em escrever um livro em que possa criticar o modo de vida de cidades iguais a Sauk Centre. Estava ainda cursando a Yale quando imaginou o roteiro de The Village Virus. Alguns anos depois, publicado em 1920, ano do nascimento de seu filho Wells, o escritor mostra o tédio e a aridez intelectual dos pequenos centros do Oeste americano.
Utilizando-se de uma cidadezinha qualquer, Lewis denuncia o modo de vida de um lugrejo de classe média da America provinciana. A sátira presente no romance rompe com a ficção americana anterior, que sempre procurava descrever a vida de uma pequena cidade como boa e inocente se comparada às grandes metrópoles.
Main Street dá-lhe também u método de trablaho, que seria utilizado em obras futuras. O escritor escolhe um determinado aspecto da vida social que possa ser estuado sistematicamente. scolhido o tema a sert tratado, Lewis passa a conviver com as pessoas que viriam aparecer no livro como personagens. Assim surge Babbitt.
Depois da publicação de Babbitt, Lewis volta ao Meio-Oeste para pesquisar novos assuntos, pois está pesando em escrever "romance do trabalho".mas acaba desistindo, porque não consegue encontrar uma linguagem adequada para falar dos trabalhadores.
Vai para Chicago, onde conhece Paul De Kruif, um jovem médico e grande pesquisador ligado ao Instituto Rockeffeler de Nova York. Juntos passam a discutir a possibilidade de um romance sobre a corrupção na medicina e nas pesquisas científicas. Com tal objetivo partem para o Caribe. Depois Lewis segue para a Inglaterra, onde começa a redigir Arrowsmith. Nessa obra o escritor revela todo o idealismo latente em sua personalidade.
Publicado em 1925, Arrowsmith traz uma inovação à ficção americana. Exceto por alguns poucos médicos que vêem a obra como uma caricatura, Arrowsmith tem grande aceitação por parte do público. O livro é comprado pelo cinema, e Lewis é contemplado com o Prêmio Pulitzer No entanto, para a admiração de muitos, o escritor recusa a honraria, afirmando que "tais prêmios tendem a legislar o gosto". Sua recusa afirma-o como um escritor idealista. Mas essa agradável imagem de idealista cai por terra no ano seguinte, 1926, quando é publicado Mantrap, um romance de aventura no Canadá, cuja crítica é bastante negativa.
Em 1927, aos 42 anos, lança Elmer Gantry. Logo depois de publicado o romance é proibido, o que causa um grande sucesso de vendas. Em 1928, enquanto os Estados Unidos ainda fervilham por causa de Elmer Gantry, Lewis parte para a Europa, onde se divorcia de sua esposa. Em Berlim conhece Dortohy Thompson, considerada a mais famosa jornalista da época. No dia 14 de maio, em Londres, casa-se com ela.
Poucos meses depois retorna aos Estados Unidos. No dia 20 de junho de 1930 nasce seu segundo filho, Michael. Ainda nesse ano o escritor é contemplado com o Prêmio Nobel, pela primeira vez concedido a um autor americano.
Logo no início do ano de 1931, Lewis escreve a seu editor propondo rompimento de contrato por achar que seus livros não são bem divulgados. O editor aceita talvez por acreditar que, com o término da década de 20, a visão da realidade americana de Sinclair Lewis já não corresponda aos fatos.
Mesmo depois disto os livros de Lewis continuam tendo boas tiragens. No entanto, ele já não tem a segurança de outrora. Seu segundo casamento fracassara. O primeiro filho morrera durnte a guerra. E Lewis entrega-se à bebida.
No processo de instabilidade, vive mudando de residência e de cidade. Além de não ser levado a sério por outros escritores busca compensar a solidão na companhia de mulheres muito mais jovens. Desse momento até sua morte publicaria ainda nove livros, sempre focalizando a vida americana. Apesar de só colher resultados desanimadores, trabalha ainda em mais um romance: World so Wide. Mas nao chega a vê-lo publicado. Umas das "práticas" da vida de interior - a bebida - acaba causando-lhe uma intoxicação orgânica. No dia 10 de janeiro de 1951, morre em Roma, aos 66 anos, distante de tudo.
Não foi muito grande a influência que teve sobre escritores mais jovens. No entanto, pode-se dizer que Sinclair Lewis trçou as linhas mestras dos autores da chamada "geração perdida", que se seguiu à Primeira Guerra, isto é, a contestação das verdades oficiais. Seus personagens vivem até hoje na tradição americana, caraterizando os traços gerais de toda uma classe.
Comparado a Scott Fitzgerald, William Faukner ou Ernest Hemingway, faltou-lhe a visão trágica da experiência humana. Mas ele sempre teve a "visão de um ardente e turvo inferno: o interior americano". Há em sua obra "o terror que nasce da repressão, da mesquinharia, das duras pilhérias do mundo que Lewis tinha absorvido dos poros". Parece que, no final de sua vida, o escritor se arrependera do caminho que escolhera desde a juventude. De acordo com sua segunda esposa, "algumas vezes ele se dirigia ao filho, pouco mais que uma criança, e lhe dizia: "Não seja um escritor; escrever é tentar escapar de alguma coisa. Você deverá ser um cientista".

2 comentários:

  1. Adorei conhecer autor e obra através seu ótimo texto. Abç

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  2. Mafalda Di Quino,

    Ler um clássico é sempre muito bom.
    Obrigada pela visita.

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